Com o surgimento do Instagram e Facebook, a Nutrologia tem sido invadida por alguns profissionais que querem mudar a sua essência. Profissionais estes que na maioria das vezes se dizem Nutrólogo sem serem titulados, apenas porque cursaram uma Pós-graduação de curta duração e que não dá base para o profissional sair atuando e se dizendo especialista.
Mas pior do que isso, é o fato de terem condutas médicas que não são comuns à prática Nutrológica e alegarem que aquilo é Nutrologia. Ou seja, além de usurparem um título que não possuem, ainda mentem que um tipo de prática faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia. E o paciente acredita, afinal é leigo.
A própria Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) teve que se posicionar em seu site, falando o que não faz parte do rol de procedimentos Nutrológicos: https://abran.org.br/imprensa/comunicado/comunicado-sobre-o-rol-de-procedimentos
Vamos então a uma descrição de práticas que NÃO fazem parte da Nutrologia mas que alguns médicos Nutrólogos utilizam:
Modulação Hormonal
Recentemente a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) publicou em seu site um parecer especificando claramente que a a Modulação Hormonal não faz parte do rol de procedimentos Nutrológicos. O documento pode ser acessado aqui: http://abran.org.br/2018/07/04/posicionamento-sobre-a-modulacao-hormonal/
Prática Ortomolecular ou “medicina Ortomolecular”
A Ortomolecular é um tipo de estratégia terapêutica, que surgiu na década de 60 com o cientista Linus Pauling e ao longo dos anos foi crescendo e se popularizando. Não tem bases sólidas e por isso nunca será (e ao meu ver nem deve) uma especialidade médica. É composta por alguns preceitos baseados em bioquímica nutricional e tem muita coisa válida, como por exemplo a detecção de intoxicações por metais tóxicos ou por nutrientes. De forma clara, por anos vários médicos praticantes da Ortomolecular usurparam-se dos conhecimentos da Nutrologia e incorporaram às suas práticas. Muitos médicos praticantes de estratégia Ortomolecular são titulados em Nutrologia pois há cerca de 15 anos a única especialidade que os acolheu de forma indireta foi a Nutrologia. Na verdade, não foi um acolhimento, foi uma similaridade em alguns aspectos da prática, como investigações de déficits nutricionais.
Na atualidade pouquíssimos médicos titulados (recentemente) são praticantes de Ortomolecular. Os poucos que o fazem, agem de forma mais consciente, buscando basear a prática em evidências científicas. Concluindo: Ortomolecular não é sinônimo de Nutrologia. Em 2012 o Conselho Federal de Medicina publicou uma resolução com os princípios norteadores da Prática Ortomolecular e nessa resolução ele especifica o que é permitido e o que não é permitido ao praticante de estratégias ortomoleculares. http://portal.cfm.org.br/images/stories/pdf/res2004.pdf
Disponível em: https://abran.org.br/imprensa/comunicado/comunicado-sobre-o-rol-de-procedimentos
Ozonioterapia
A ozonioterapia é uma terapia com algum grau de evidência científica para determinadas doenças. Porém não é a panaceia que muitos médicos propagam e nem isenta de efeitos adversos. A aplicação de gás ozônio por via retal, nasal, endovenosa ou intramuscular nunca fez parte do arsenal terapêutico da Nutrologia segundo a ABRAN. Apesar de ser legalizada na Rússia, Alemanha, Cuba, Espanha, Itália, Portugal, no Brasil a técnica é classificada como experimental pelo Conselho Federal de Medicina, porém permitida pelos outros conselhos da área de sa´úde.
Terapia com hCG
Dieta altamente restritiva na qual se utiliza o hormônio hCG com finalidade de emagrecimento. As entidades médicas sérias se posicionam contra esse tipo de dieta e a mesma não faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia, apesar de alguns médicos titulados assim fazerem.
Uso de Anabolizantes/ Esteróides Androgênicos Anabolizantes (EAA): testosterona em gel, testosterona injetável, oxandrolona, gestrinona
A Nutrologia utiliza hormônio em sua prática? Sim, mas com indicações específicas, ou seja, para pacientes com massa magra muito baixa e decorrente de algumas doenças: ex. caquexia do câncer, caquexia do paciente portador de enfisema, pacientes que perdem peso durante a internação hospitalar, pacientes anoréxicos. No contexto de déficit de testosterona decorrente do envelhecimento, a reposição só deve ser feita se existir queixa, sendo o endocrinologista o profissional mais indicado para fazê-la. Prescrição de qualquer EAA com finalidade estética (ganho de massa, melhora da composição corporal) é proscrita, não sendo recomendado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). Ou seja, EAA fazem parte do arsenal terapêutico da Nutrologia apenas se houver indicação médica e relacionada à Nutrologia.
Medicina antienvelhecimento/anti-aging
A Nutrologia engloba a Nutrologia geriátrica e a Oxidologia (estudos dos radicais livres) mas não engloba a utilização de práticas que visam retardar o envelhecimento com substâncias como Procainoterapia, uso de antioxidantes sintéticos, doses altas de vitaminas, minerais e ácidos graxos. Portanto Nutrologia não é sinônimo de medicina anti-aging.
Nutriendocrinologia
O termo foi criado por um médico brasileiro e que já deixou de utilizar, após o Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia emitirem um alerta sobre a inexistência de tal especialidade médica, ou seja o não reconhecimento da mesma. Muitas das ferramentas utilizadas pelos praticantes da Nutriendocrinologia fazem parte do arsenal nutrológico, mas a grande parte não faz, muito menos encontra respaldo das grandes sociedades médicas: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Associação Brasileira de Nutrologia, Sociedade Brasileira de Geriatria. Portanto o que existe é Nutrologia e Endocrinologia.
Medicina integrativa
A medicina integrativa surgiu nos Estados Unidos, em centros Universitários e Hospitais, principalmente em Arizona, Harvard, Mayo e Cleveland Clinic. A proposta é um resgate da medicina tradicional e humanizada, contrapondo o modelo tecnológico e frio da medicina com excesso de tecnologia, segmentada e com “pouco toque”, “pouco ouvir” e pouca autonomia do paciente.
No Brasil, nosso principal expoente é o Dr. Paulo de Tarso Lima, do Hospital Albert Einstein em São Paulo. Os preceitos dessa prática são: o paciente é ativo em seu processo de cura e recuperação; o médico vê o paciente com um todo, de forma ampla e integral, compreendendo aspectos como mente, corpo e estilo de vida.
No tratamento integrativo o foco sobre a doença é retirado, sendo médico e pacientes parceiros no tratamento e no processo de cura. Ajustes na dieta e nos hábitos alimentares, suplementação nutricional (quando necessária), prática regular de exercícios físicos, redução e combate ao estresse e terapias focadas em corpo e mente são os pilares que sustentam as mudanças em benefício da saúde.
É importante salientar que a medicina integrativa não é uma área “alternativa”, mas sim complementar. Essa não deixa de lado todas as possibilidades de recursos tecnológicos e exames, procedimentos, cirurgias etc. No entanto usa todo esse aparato aliado a posturas psicoprofiláticas, mudança do perfil do cliente para otimizar seu autocuidado, qualidade de vida e saúde.
Todo o contexto de vida deve ser avaliado: circunstâncias e peculiaridades profissionais, estressores familiares e conjugais podem ser abordados e correlacionados ao processo de enfermidade x cura.
A proposta de uma medicina mais integrativa é excelente, o que ocorreu foi uma total deturpação da proposta da Medicina integrativa e misturaram-na com terapias sem validação científica. Medicina integrativa não envolve uso de hormônios, mega doses de vitaminas, minerais, ácidos graxos, utilização de antioxidantes, páginas e páginas de receitas de medicações manipuladas e com indicação de farmácia específica.
Portanto, o Nutrólogo pode ser praticante dos preceitos da Medicina integrativa, sendo mais humano, ouvindo melhor o paciente, colocando como figura de autonomia no tratamento. Mas Nutrologia não é sinônimo de Medicina integrativa, Nutrologia é especialidade médica.
Dieta detox
O processo de destoxificação não é mito, ele realmente existe e a única coisa que você precisa fazer é fornecer os nutrientes adequados para que o seu fígado o faça. Ou seja, não é tomando um suco de limão com couve no café da manhã que o seu corpo irá se “desintoxicar”. Há pesquisadores que estudam os nutrientes e fitoquímicos que podem facilitar as reações de destoxificação, mas daí extrapolar, alegando que existe uma dieta própria para isso, é inaceitável. Tal tipo de prática nunca foi e nem fará parte do arsenal terapêutico da Nutrologia.
Chips hormonais ou “chip da beleza”
Muito na moda nos consultórios de alguns médicos que se intitulam Nutrólogos, o tal chip da beleza não encontra respaldo das sociedades médicas do Brasil. Foram desenvolvidos com a finalidade de terapia anticoncepcional e para reposição hormonal, mas segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia não há evidências nem estudos realizados sobre os hormônios utilizados no chip. Como já dito acima, em medicina não se usa hormônio para fins estéticos. Nestes chips colocam hormônios androgênicos que podem alterar colesterol, pressão arterial, pelos, clitóris, voz e a distribuição de gordura. Mulheres de todas as idades (após a adolescência) estão fazendo uso pelo potencial em mudar a configuração corporal, reduzir celulites, melhorar a distribuição de gordura. O que na prática se vê por um curto período de tempo, depois os efeitos adversos surgem. Sendo assim o tal Chip da beleza não faz parte do arsenal terapêutico da Nutrologia, apesar de alguns Nutrólogos insistirem em prescrever para seus pacientes. Na visão da Nutrologia, redução de celulite, melhora da conformação corporal se dá com hábitos de vida saudável, alimentação equilibrada, além de prática de atividade física supervisionada e direcionada para o objetivo.