Os hábitos alimentares errôneos parecem ser uma das principais causas de distúrbios metabólicos. Os sinais e sintomas da disfunção labiríntica parecem estar entre as primeiras queixas dos pacientes com pré-diabetes.
Ao longo dos anos, vêm-se observando que o tratamento nutroterápico pode auxiliar na redução acentuada dos sintomas da disfunção labiríntica. Os estudos evidenciam que o tratamento dietético pode diminuir os sintomas da disfunção labiríntica, proporcionando o alívio para o paciente e melhorando a sua qualidade de vida. Acredita-se que 42% a 80% dos pacientes portadores de zumbidos e tonturas apresentam algum grau de alteração no metabolismo de carboidratos.
Labirintopatia metabólica
Diversas condições metabólicas afetam intensamente o funcionamento do ouvido interno. Estas são capazes de determinar o aparecimento de alterações labirínticas que, na maioria dos casos, são decorrentes de distúrbios no metabolismo de carboidratos. A condição metabólica mais freqüentemente relacionada à disfunção da orelha interna refere-se aos distúrbios na secreção da insulina, com ou sem hipoglicemia reativa concomitante.
As estruturas labirínticas apresentam atividade metabólica intensa, sendo altamente sensíveis aos níveis de oxigênio, glicose e ATP (Adenosina Trifosfato). O labirinto é particularmente sensível a pequenas variações nos níveis plasmáticos de glicose e insulina. Tanto a hipoglicemia quanto a presença de altos níveis de insulina interferem na atividade enzimática responsável pelo potencial endococlear.
Nas labirintopatias ou afecções vestibulococleares, os sintomas mais freqüentes, em pacientes com hiperinsulinemia, são a vertigem típica, associada a sintomas auditivos, como tinnitus, sensação de plenitude auricular, disacusia e cefaléia, limitando a qualidade de vida do indivíduo. É notável que os antecedentes pessoais e familiares dos portadores de labirintopatia metabólica revelam hábitos de alimentação inadequados, sedentarismo e tendência familiar para doenças como diabetes, hipertensão arterial e distúrbios hormonais.
É evidente que, nos distúrbios metabólicos sistêmicos, o labirinto é atingido precocemente, sinalizando a necessidade de intervenção. Em relação à orientação terapêutica, o distúrbio deve ser diagnosticado e corrigido. Na maioria das vezes a correção requer orientação alimentar.
A hiperinsulinemia como fator desencadeante da labirintopatia
Os carboidratos constituem a fonte mais importante de energia do organismo sendo que o principal carboidrato é a glicose. A elevação dos níveis séricos de glicose estimula insulina, que retira glicose da corrente sangüínea para as células. Dentre os distúrbios do metabolismo do açúcar aceitos atualmente como responsáveis por alterações labirínticas, estão as disfunções metabólicas da glicose, incluindo diabetes, hipoglicemia reativa e hiperinsulinemia.
A secreção de insulina, que é constante, pode ser modificada de acordo com estímulos específicos que podem aumentar ou diminuir sua taxa secretória Além dos neurotransmissores e hormônios, os nutrientes constituem-se estímulo para a secreção insulínica. Os níveis aumentados de insulina resultam na redução da oferta de oxigênio para as células, o que induz prejuízo à função auditiva.
A insulina e, secundariamente, a glicose, seriam fundamentais na produção energética e ao adequado funcionamento da bomba de sódio e potássio.
Os alimentos no controle da hiperinsulinemia
Quando nos alimentamos, o processo de absorção dos nutrientes ocorre de forma gradual e contínua. Após ingerir uma refeição, podemos notar que os níveis sanguíneos de glicose alcançando o dobro dos níveis pre-refeição. Daí a importância de que a secreção de insulina ocorra também de forma gradual, acompanhando as oscilações dos níveis sanguíneos de glicose. O estímulo à secreção de insulina se dá por diversos fatores e qualquer desequilíbrio na concentração fisiológica de glicose plasmática pode determinar alterações e danos em vários tecidos/órgãos. O aumento na incidência de diabetes evidencia uma inabilidade gradual do pâncreas na produção de elevadas concentrações de insulina ao longo da vida. Esse equilibro começa a ser perdido já quando o paciente apresenta tolerância diminuída à glicose (ou pré-diabetes).
Segundo o Dr. Fukuda, professor de otorrinolaringologia da UNIFESP e autor do livro Açúcar: alimento ou vilão, o consumo de sacarose tem sido exagerado nas últimas décadas e nosso organismo não teve o tempo necessário para adaptar-se às elevadas quantias ingeridas. O resultado dessa inadequação é a hiperinsulinemia com conseqüente hipoglicemia reativa e sintomas como cefaléia, sonolência, tonturas. Na prática ouvimos essas queixas dos pacientes no início dos quadros de pré-diabetes ou hiperinsulinemia.
Estratégias que minimizam esses picos de insulina assim como os picos de glicemia, ou seja, estratégias que retardam a “quebra” dos carboidratos, tendem a melhorar os sintomas de vertigem, zumbidos, sonolência. Sendo assim, a nutroterapia nos distúrbios do metabolismo dos carboidratos, prevê o controle tanto do índice glicêmico dos alimentos utilizados na dieta quanto da carga glicêmica presente em cada refeição. O índice glicêmico de um alimento está relacionado ao impacto de sua composição na glicemia (alto, moderado ou baixo) após a sua ingestão. Já a carga glicêmica está relacionada ao impacto resultante do volume ingerido (alto, médio ou baixo). Um alimento que apresenta alto índice glicêmico, não necessariamente vai representar alta carga glicêmica na refeição, se a quantidade ingerida estiver sob controle.
Na prática clínica, observo que uma dieta com baixa carga glicêmica reduz os níveis de colesterol, triglicérides, insulina e melhora a glicemia, em especial nos pacientes diabéticos.
O incremento de alimentos ricos em fibras solúveis e o adequado fracionamento das refeições, também buscam retardar a quebra dos carboidratos e com isso uma repercussão positiva no controle dos distúrbios metabólicos. Quanto maior o teor de fibras do alimento e o retardo do esvaziamento do estômago, menor será a elevação da glicose no sangue após sua ingestão.
Além do controle da quantidade, da qualidade, da freqüência e da combinação dos alimentos, é fundamental que seja reduzido a ingestão de álcool, de cafeína, além de cessar o tabagismo.
Se você possui “labirintite”, vertigem, zumbido e sonolência após ingestão de carboidratos, procure um nutrólogo para que ele possa fazer um ajuste nutrológico na dieta habitual
Fontes:
BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; VENOSA, A. et al. 2004. Vestibular impairment secondary to glucose metabolic disorders: reality or myth? Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, v.70, n.6, nov/dez. São Paulo. 801-6.
BITTAR, R. S. M.; BOTTINO, M. A.; ZERATI, F.E. et al. 2003. Prevalência das alterações metabólicas em pacientes portadores de queixas vestibulares. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia. v.69, n.1 jan/fev. São Paulo.
BITTAR, R. S. M; SANCHEZ, T. G.; SANTORO, P.P et al. 1998. O metabolismo da glicose e o ouvido interno. Arquivos Internacionais de Otorrinolaringologia. V.2 Ed.1. São Paulo. 112-20.
FUKUDA, Y. 2003. Otorrinolaringologia. Guias de medicina ambulatorial e hospitalar. São Paul Manole.