Os produtos de glicação avançada (AGEs, do inglês, advanced glycation end-products) são formados por meio da reação de glicação não enzimática de escurecimento, também conhecida como reação de Maillard. Trata-se de uma grande variedade de substâncias formadas a partir de interações amino carbonilo, entre açúcares redutores ou lipídios oxidados e proteínas, aminofosfolipídeos ou ácidos nucléicos.
Os principais AGEs formados no organismo são: carboximetil-lisina, carboxietil-lisina, pentosidina, pirralhinha e dímeros de glioxal e metilglioxal.
O risco da comida “torradinha”
O acúmulo de produtos de glicação avançada (AGEs) nos tecidos e órgãos pode causar complicações graves e promover o desenvolvimento/progressão de diversas doenças, como complicações vasculares, sarcopenia e piora da função renal.
Hoje vamos falar de mais uma problema de saúde que pode estar associado aos AGEs: o câncer!
Foi sugerido que o acumulo de AGEs leva a complicações associadas ao câncer, sendo a agregação proteica (interação anormal entre proteínas causada por mudanças estruturais) um dos principais mecanismos envolvidos.
Os AGEs são metabólitos altamente reativos que, além de gerar respostas inflamatórias e estresse oxidativo, causam disfunção e modificações estruturais nas proteínas. Essas modificações podem afetar, por exemplo, a proteína p53, que é supressora de tumor, além de outras importantes reguladoras de processos celulares (como a p63 e p73). Proteínas mutadas aumentam sua capacidade de se agregar, facilitando o processo de agregação proteica.
Além disso, devido a falta de oxigênio, os tumores tendem a depender principalmente do metabolismo anaeróbico da glicose. Para compensar esse suprimento de energia ineficiente, os tumores apresentam uma taxa mais alta de captação de glicose e glicólise, o que leva ao aumento da formação de AGEs e aumenta ainda mais a progressão do câncer, criando um ciclo vicioso que se retro-alimenta.
A associação entre AGEs, agregação de proteínas e progressão de tumores é suportada por estudos que identificaram agregados proteicos e maior expressão de receptores de AGEs (RAGEs) em biópsias de tumores humanos, sendo estes associados positivamente a maior atividade metastática em experimentos com células cancerígenas.
Portanto, conclui-se que o acúmulo de AGEs está relacionado ao aumento da resposta inflamatória e da agregação proteica, processos que parecem desempenhar um papel importante na formação e progressão de tumores.
Autor: Prof. Valentim Magalhães – Nutricionista
Referência: Haque E, Kamil M, Hasan A, et al. Advanced glycation end products (AGEs), protein aggregation and their cross talk: new insight in tumorigenesis. Glycobiology. 2019;30(1):49-57. doi:10.1093/glycob/cwz073